E estou espantada esportivamente!
E já vi três campeonatos diferentes de golfe na TV, dois profissionais e um amador, acompanhei dois jogos de cricket, já vi comerciais de rugby e netball (nem sequer conhecia o esporte) - mas isso era esperado. Já vi tênis e basquete - também esperado. A diversidade esportiva eu já sabia que era real aqui na Australia.
Também fui à um driving range durante à tarde - passei duas horas com meus tacos entre ferros, approachs e putters. Estava lotado. Okay - era esperado. A maioria dos jogadores eram homens. Okay - também esperado. Mas o que me chamou a atenção foi:
1. haviam vários casais, Mas a namorada/esposa/amiga não estava assistindo o namorado/marido/amigo. Elas estavam na baia ao lado, com um taco na mão, batendo bolinhas enquanto o outro também treinava. Erravam, acertavam, ficavam felicíssimas quando acertavam boas tacadas. E tudo isso incentivadas pelo parceiro.
Eu já passei por dezenas de clubes de golfe, já devo ter batido milhares de bolas na minha vida: essa cena me chamou atenção porque eu nunca vi a mulher ser incentivada dessa forma - por todos! Não foi um caso isolado ou uma atleta raçuda buscando resultados de alto rendimento...
2. havia também mulheres super iniciantes. Sozinhas. Sem preocupação com o dress code ou foco no swing perfeito. Estavam ali, num domingo ensolarado, por simplesmente ter vontade de bater drivers! Às vezes até com uma cervejinha. E isso parecia natural...
3. Eu estava ali super concentrada tentando corrigir um erro de backswing. E além dos casais, mulheres treinando, havia alguns grupos de amigos. Pareciam ser handicap 18+, jovens, de regata e shorts esportivos. Eles estavam ali, batendo bola, apostando em approachs, conversando e... se divertindo! Não eram jogadores de alto rendimento. Possivelmente não são jogadores de todo fim de semana. Me pareciam jovens que tiraram a tarde de domingo para bater bolas...
E falando em se divertir fazendo approachs: a área de treino de putters era impecável. Mas quase vazia - a não ser por mim e uma criança que parecia estar esperando o pai acabar de bater o balde na baia do driving range. Mas ao lado do super green impecável de putters, estava o green de chips/approachs e estava LOTADO.
Quando cheguei para treinar nesse green lotado, notei que os buracos eram enormes e deviam ter uns 30 cm de diâmetro! E ai se explicou porque tínhamos vários grupos ali brincando e sorrindo - embocar era fácil! Porque não deveria ser? Porque aquilo não podia ser super divertido?
O interessante nos programas assistidos pela manhã foi que um campeonato de golfe era do LPGA, um jogo de cricket era feminino e o comercial de netball não só era da equipe feminina, como falava "Rethink Role Models" em um momento de empoderamento massivo à atleta mulher. E ainda escrevo esse texto enquanto assisto profissionais dando um dia de clínica para mulheres de todas as idades e handicaps em um campo qualquer, parece ter umas 30 mulheres na clínica...
Então o que foi possível notar claramente:
- A mulher atleta aqui tem uma força incrível!
- O acesso aos esportes acontece na infância - se uma pessoa conhece o esporte enquanto jovem, maior a chance de ser um fã durante a vida.
- O esporte é acessível e é divertido! E é principalmente social!
Como o esporte é feito para ter uma participação muito grande em todas as faixas etárias, a probabilidade de ter jogadores sociais é maior. Com maior quantidade de jogadores sociais, maior o número de jogadores de alto rendimento. Não porque a efetividade de tornar um conhecido do esporte em jogador de alto rendimento seja maior aqui - mas eu acredito que seja baseado em porcentagem. Se 100 pessoas conhecem o golfe, 20 viram jogadores, 5 viram jogadores competitivos, imagina se passam 10.000 pelo mesmo processo (desde que haja um caminho de desenvolvimento claro para o iniciante - o famoso pathway).
E ainda temos um incentivador externo aqui: temos ídolos atletas australianos de diferentes gerações e esportes. Vi o Jason Day hoje em banners, vi o tubarão do Greg Norman espalhado por ai...
Acho que a combinação de exposição ao esporte na faixa etária correta com o empoderamento da mulher no esporte e a facilidade de praticar esportes de forma divertida traz sim resultados. Com certeza um trabalho que deve ser feito de médio à longo prazo. E bato sempre na tecla da força da mulher no desenvolvimento do esporte pelo fato de acreditar que esse é um pilar para o crescimento. Quando a mãe é atleta, os filhos tem muito mais chances de ser - mesmo que em outro esporte.
E o importante é praticar o esporte - independente de qual seja.
Eu tenho um mês de trabalho aqui. Se conseguir entender mais sobre como os Australianos conseguem manter tudo isso vivo aqui, já voltarei pra casa mais contente.
E pra acabar: repense seus modelos de vida!
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