Demônios.
Ai se eu conseguisse explicar tudo que se passou na minha cabeça durante esse último mês.
Entre lidar com a insatisfação de assuntos pendentes e com momentos de um passado que queria voltar, posso dizer: foram semanas de luta.
Decidi jogar novamente o Aberto de Poços como uma decisão de planilha - examinei os prós, os contras, conversei com mentores e amigos. Pensei em como lidar com o passado que assombrava. Pensei no desafio que precisava encarar. Pensei no treinamento que o fim de semana seria.
E foi tudo isso. Foi intenso. Foi desafiador. Foi mind-blowing!
Dentre um primeiro dia de adaptações e putters indecisos, busquei todos os positivos que pude: uma batida de bola mais concisa, um driver que eu voltava a gostar, uma visualização mais intensa. E foquei nos pontos a trabalhar para o segundo dia: putters e controle de bola com os ventos.
O segundo dia começou tenso. Até o buraco 4 fui lutando com um swing menos estável, mas determinada em manter o jogo positivo. E ele melhorou. Passei buracos complicados com bons resultados e joguei com equilíbrio.
E encontrei o primeiro demônio.
Bati um ferro para sair do tee do 8, um par 4 com um platô antes de uma descida que começa nas 150 jardas e só sobe no início do green. Jogada mais inteligente que o dia anterior onde tentava controlar um híbrido.
Estava a 175 jardas, com vento contra. Bati um ferro 5, que voou livremente para o fora de campo assim que o vento diminuiu. Fiquei surpresa pela distância de voo. Peguei outra bola, um ferro 6 e bati novamente. Outro fora de campo! Também longo e dessa vez na direção da bandeira.
Estava atônita. Não foram 2 bolas sem mau contato ou desconcentração. Foram erros de escolha de taco devido ao vento. No MEU clube!
Bati a terceira bola, que também foi longa e acabou enterrada a quase um palmo de profundidade na areia fofa de uma banca em descendente. Resultado: 12! Sim, 12.
Sai do green chateada, mas... respira, anda devagar e bola pra frente.
Do buraco 8 ao 9 é a maior distância que temos entre green e tee no nosso campo. E foi tempo suficiente para me recompor. Consegui entrar novamente no meu planejamento e voltei a bater bem e embocar.
Até o segundo demônio.
Cheguei no tee do 14, buraco que havia batido drivers lindos e feito pares em todas as rodadas. Coloquei minha bola, fiz minha rotina, visualizei, bati. Fora. A bola saiu com efeito e o vento levou.
Peguei uma segunda bola, coloquei no tee, fiz minha rotina, respirei, visualizei, bati. Fora de novo.
O que?
Calma. Respira...
Outra bola e coloquei minha 3a batida na banca a 100 jardas do green. Cheguei lá, escolhi o taco, fiz a rotina. Bati. Fora.
Cabeça foi a milhão. Olhei pra cima. Eu tive vontade de pegar meus tacos e sumir!
Bati novamente. Outra bola afundada na areia, uma saída para o pre-green e um approach que ficou no fundo do green.
Eu estava vendo minha vantagem ir embora de novo, em casa - de novo.
Contei minhas jardas para o buraco, olhei a caída, fiz a rotina e bati o putter de 7 jardas para 11a tacada.
A bola caiu!
E foi como se eu pudesse explodir. O grito veio de dentro como se tivesse embocado para ganhar o campeonato.
Eu me lembro de andar devagarinho. Quase que em meditação até o próximo tee.
Aquele demônio não ia me pegar facilmente.
Se quisesse me pegar, teria que tentar me bater de novo.
E assim segui buscando pares até o final do jogo.
Cada tacada foi uma luta mental.
Cada putter foi uma decisão de campeonato.
Cada escolha de taco foi analisada como jogo de xadrez.
Se fosse no ano passado, eu teria perdido esse campeonato.
Mas não agora.
Campeã Scratch do 31° Aberto do Poços de Caldas Golf Club.
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